Wálter Forster e Vida Alves em Sua Vida Me Pertence
Os textos eram em sua maioria adaptações de clássicos da literatura brasileira e mundial, ou adaptações de textos importados da América Latina. Esses textos já faziam sucesso no rádio e, com o surgimento da TV, migraram para o novo veículo. Eram histórias essencialmente românticas, calcadas no folhetim, e o público alvo era o feminino, as donas de casa. Os responsáveis por estas produções não eram as emissoras, mas os anunciantes, como a Colgate-Palmolive e a Gessy-Lever. Por isso as novelas eram conhecidas como “soap-operas”, óperas de sabão, nos Estados Unidos. Ou seja, histórias que visavam o público feminino, patrocinadas por fabricantes de produtos de limpeza ou pela indústria cosmética.
Com o surgimento do videoteipe houve uma verdadeira revolução na televisão. A telenovela, caracterizada por uma história seriada apresentada duas ou três vezes por semana, não conseguia fidelizar sua audiência. A partir do momento em que a novela passou a fazer parte de uma grade horizontal – ou seja, a ser apresentada diariamente, em um mesmo horário -, criou-se o hábito no telespectador de “seguir”, “acompanhar” aquela história todos os dias.
A primeira novela diária foi apresentada na TV Excelsior, em 1963. Chamava-se 2-5499 Ocupado, um texto argentino adaptado por Dulce Santucci, com Tarcísio Meira e Glória Menezes como protagonistas. Os primeiros sucessos foram escritos por Ivani Ribeiro, em 1964, adaptados de originais latinos: Alma Cigana, apresentada na Tupi, com Ana Rosa e Amilton Fernandes, e A Moça que Veio de Longe, na Excelsior, com Rosamaria Murtinho e Hélio Souto.
Nathalia Timberg e Amilton Fernandes em O Direitro de Nascer
Os executivos de televisão entenderam esse poder e passaram a investir decisivamente no gênero. Mas a telenovela ainda estava presa à sua origem radiofônica, aos dramalhões latinos, e, portanto, alvo de críticas e considerada um produto menor. Na segunda metade da década de 60, iniciou-se nas emissoras um movimento para nacionalizar o gênero, libertando-o de suas origens latinas. Ivani Ribeiro, Geraldo Vietri e Lauro César Muniz foram os primeiros novelistas a incluir em suas obras características próprias de um estilo mais brasileiro.
A grande reviravolta se deu em 1968. Cassiano Gabus Mendes, então diretor artístico da Tupi, apostou suas fichas em uma novela que abandonasse totalmente o estilo latino e fizesse uso de coisas essencialmente nacionais em sua história. Cassiano concebeu, Bráulio Pedroso escreveu e Lima Duarte dirigiu Beto Rockfeller, considerada um divisor de águas na história da nossa Teledramaturgia. A partir de então, todas as emissoras passaram a seguir este padrão, que tornou a telenovela brasileira um produto único no mundo.
Luiz Gustavo e Bete Mendes em Beto Rockfeller
Sessenta anos depois, muita coisa mudou na nossa TV, principalmente a telenovela. Ela começou tímida, ao vivo, passou a ser diária, mudou de formato, ganhou brasilidade e características próprias que a difere da teledramaturgia dos demais países. E a telenovela é ainda – há mais de quarenta anos – o produto de maior audiência da TV brasileira.Relembre algumas das novelas clássicas – até a década de 90 – que fizeram história na nossa TV!
2-5499 Ocupado (Excelsior, 1963): primeira novela diária, já em videoteipe.
O Direito de Nascer (Tupi, 1965): apesar do texto importado, essa produção brasileira foi a primeira a causar comoção popular.
Redenção (Excelsior, 1966/1968): a mais longa novela brasileira: 596 capítulos, praticamente 2 anos no ar. Primeira cidade cenográfica construída especialmente para uma novela. Reproduzia a fictícia cidade de Redenção e foi construída em São Bernardo do Campo onde hoje funciona o Museu da TV, inaugurado recentemente.
Antônio Maria (Tupi, 1968/1969): o maior sucesso do autor-diretor Geraldo Vietri, foi uma das primeiras a se libertar do ranço dos melodramas importados.
Beto Rockfeller (Tupi, 1968/1969): primeira novela a abolir definitivamente a linguagem dos melodramas latinos e a incorporar a realidade brasileira, modelo que passou a ser seguido a partir de então por todas as emissoras.
Irmãos Coragem (Globo, 1970/1971): primeiro grande sucesso da Globo.
Selva de Pedra (Globo, 1972): famosa pelo registro dos 100% de audiência na cidade do Rio de Janeiro durante a exibição do capítulo 152, em 04/10/1972.
O Bem Amado (Globo, 1973): primeira novela brasileira em cores, sucesso de crítica e público.
Mulheres de Areia (Tupi, 1973/1974): de Ivani Ribeiro, seu maior sucesso popular.
Pecado Capital (Globo, 1975/1976): considerada pela crítica especializada a melhor novela de Janete Clair.
Escrava Isaura (Globo, 1976/1977): a mais famosa novela brasileira no exterior por ter sido uma das mais vendidas.
Dancin´ Days (Globo, 1978): o primeiro sucesso de Gilberto Braga no horário nobre. Ditou moda e espalhou discotecas pelo Brasil na época.
Guerra dos Sexos (Globo, 1983): criou um novo padrão para o horário das sete da Globo e foi uma das bases para a inovação do humor na TV brasileira na época.
Roque Santeiro (Globo, 1985/1986): um dos maiores êxitos da TV brasileira, sucesso de público, crítica e faturamento.
Vale Tudo (Globo, 1988): perfeita combinação entre folhetim e crítica social ao Brasil do final dos anos 80.
Que Rei Sou Eu? (Globo, 1989): microcosmo do Brasil retratado num fictício reino medieval.
Tieta (Globo, 1989/1990): sucesso arrebatador de Aguinaldo Silva.
Pantanal (Manchete, 1990): sucesso de Benedito Ruy Barbosa que quebrou a hegemonia da Globo.
Quer saber mais?
Visite o blog do joinvillense Nilson Xavier: http://nilsonxavier.blogosfera.uol.com.br/
Visite o site do joinvillense Nilson Xavier: http://www.teledramaturgia.com.br/tele/home.asp
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